Tenho cá para mim que quando as lojas foram inventadas alguém se deve ter lembrado de coordenar os rendimentos das pessoas de classe média com os produtos disponíveis, só para implicar.
Acontece-me sempre.
Vou a uma loja e encontro coisas giríssimas de última tendência, que tenho a certeza que me vão assentar que nem uma luva.
No meio do deslumbramento, e enquanto fico a salivar de desejo por aquelas pecinhas maravilhosas, que objetivamente não me fazem falta alguma mas eram mesmo o que eu procurava, faz-se tilt e lembro-me que ainda o mês vai a meio e já o saldo da conta mal dá para pagar a água, a luz e comprar 3 papo-secos.
Simulo uma espécie de alzheimer e tento esquecer que posso pagar a crédito. Resisto mas sem nunca perder a esperança de voltar no próximo mês para efectivar o consumo.
E quando volto, com uma notinha posta de parte para a tão desejada compra, posso correr as lojas todas, revirar expositores e experimentar 1565 peças que nada presta. De repente parece que a moda virou um conjunto de trapos mal desenhados. Mas claro, acabo sempre por comprar qualquer porcaria, nem que seja um pano de cozinha.
Volto às lonas e as coleções voltam a ganhar vida.
Por causa desta maldade do mundo do consumo, tenho um arsenal de turgia capaz de fazer inveja a qualquer loja dos chineses, e ando sempre com os mesmos trapos vestidos.
Sinto-me entristecida.
Bom dia.
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